Diferentemente do que se temia até o início deste ano, o presidente Jair Bolsonaro adotou um tom pragmático nas relações diplomáticas e comerciais com o Mercosul, após ter se reunido ontem em Brasília (DF) com o presidente do país parceiro, Mauricio Macri.

Após o encontro, Bolsonaro discursou à imprensa e afirmou que é preciso que o Mercosul conclua “rapidamente as negociações mais promissoras” para iniciar novas negociações, com “flexibilidade” para que os países da União Aduaneira recuperem “o tempo perdido”.

O presidente reforçou a necessidade de tornar o Mercosul mais “enxuto”, dando prioridade à abertura comercial, redução de barreiras e eliminação de burocracias.

O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francisco Américo Cassano, avalia que o discurso do presidente indica que o bloco caminha para um período de desburocratização, o que não significa, necessariamente, o seu fim.

“É possível que ocorra, daqui para a frente, uma permissão para que os países do Mercosul negociem livremente com outros países, o que se alinha muito com as ideias do ministro do Itamaraty [Ernesto Araújo] de priorizar o bilateralismo em detrimento do multilateralismo”, diz Cassano.

Atualmente, não é permitido que o Brasil negocie, por exemplo, com outros países fora do Mercosul. Para Cassano, a flexibilização do bloco pode significar até mesmo o fim a Tarifa Externa Comum (TEC). A TEC é um imposto de importação aplicado pelos membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) nas negociações com outros países.

O consultor da BMJ, Matheus Andrade, diz, por sua vez, que a tendência de flexibilização não implica, necessariamente, na eliminação da TEC. Segundo ele, é possível reduzir a tarifa ou até mesmo mantê-la, mas permitir que os membros do Mercosul escolham para quais países darão preferência tarifária.

“Em um eventual acordo com a Coréia, por exemplo, o Brasil reduziria ou eliminaria um imposto de importação, dando acesso para os produtos coreanos ao mercado brasileiro, mas não ao mercado argentino. Não precisaria negociar com outros membros do bloco para realizar isso”, exemplifica o consultor da BMJ.

Segundo Andrade, o que se tem, por enquanto, é apenas uma sinalização de flexibilização. “Ainda não dá para saber como isso irá se concretizar”.

Ontem, o ministro de Relaciones Exteriores de Argentina, Jorge Faurie, chegou a afirmar que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia está muito próximo de ser fechado. “Estamos trabalhando para fechar em conjunto as negociações entre Mercosul e União Europeia que estão em fase final”, disse o ministro argentino. Além do bloco europeu, o Mercosul negocia acordos com Canadá, Cingapura, Coreia do Sul e EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein).

Durante o seu discurso, Bolsonaro utilizou um tom amistoso, ao afirmar que o Brasil preza pela relação de “amizade e cooperação” que mantém com o governo da Argentina. Além disso, o presidente ressaltou que as trocas com o país parceiro garantem empregos de qualidade ao Brasil, tendo em vista que as nossas exportações são, basicamente, de produtos manufaturados.

Em 2018, a Argentina foi o terceiro país para o qual o Brasil mais exportou, perdendo somente para a China e Estados Unidos. As nossas vendas externas à Argentina subiram 6,2%, para US$ 15 bilhões, sendo que 90,5% foram produtos industriais. Já as importações cresceram 6%, a US$ 11 bilhões, com 77,3% de manufaturados e 19,4% de básicos.

Fonte: DCI

Quinta Feira - 17/01/2019

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